No último dia da mulher (08/2018) a Livraria Saraiva disponibilizou uma promoção que oferecia até 50% de desconto para as compras feitas por consumidoras mulheres. Além dessa mega oportunidade, no site pude ver vários livros recomendados cujas autoras são mulheres (isso me fez dar um sorrisinho).
Achei a ação de Marketing incrível e algumas evidências podem contribuir para essa conclusão como: as lojas por todo o Brasil ficaram abarrotadas, o site travou de tantos acessos e além disso rolou um Buzz ( burburinho, gente falando sobre) que tumultuou a Internet alguns dias antes, durante e depois ( com a chegada dos livros).
Duas coisas me deixaram feliz. A primeira foi, certamente, a chance de comprar todos os livros que estavam na minha eterna lista de espera, ou por serem caros ou porque eu tinha zero condições de comprar todos de uma vez para zerar a lista.
Gente do ceu! Quando esses livros chegaram, meu coração só faltou sair pela boca, de tanta alegria. SÉRIO! MI-SE-RI-COR- DI-A!
A segunda coisa que me deixou feliz foi ver milhares de mulheres consumindo cultura, comprando seus próprios livros, pegando filas para lerem seus autorxs favoritos, para consultarem aquela literatura fundamental para a faculdade, ou simplesmente para se presentear. Foi ver a gente se politizando, aprendendo e ampliando o campo de conhecimento ( porque é isso que a leitura faz, nos enriquece ) … A cada dia que passa a gente conquista mais espaços. E a medida que sabemos mais sobre nós mesmas e sobre o mundo, mais fortes e criteriosas ficamos… e é assim que se cresce e se define a própria felicidade! Feliz de ver tanta mina lendo, tanta mina com poder de compra. Tanta mina recomendando livro e avisando a amiga que a promoção estava rolando.
Triste por esse recurso ainda ser restrito a uma minoria, por tantas meninas que precisam sair da escola para cuidar dos irmãos, de casa ou trabalhar, triste pelo índice de analfabetismo do Brasil e mais triste ainda de saber que tem muita mulher que não possui acesso à educação e leitura.
Por isso que esse dia ficou marcado pra mim. Porque foi um misto de sentimentos e de pensamentos que eu não podia deixar de compartilhar.
Em nossa ultima visita à Londres, tivemos o prazer de conhecer dois lugares incríveis da cidade. Um deles é o Bairro de Notting Hill e o outro é o estudio de gravação da saga Harry Potter. Se você me segue no instagram já devem ter visto!
Estava aqui em casa usando o computador e no YouTube começou a tocar uma música bem famosa da Marília Mendonça chamada: amante não tem lar. Meu papel com esse texto não é julgar o trabalho da Marília ( super talentosa e empoderada) mas, dividir com vocês uma reflexão que fiz a respeito dessa letra, que parei pra prestar mais atenção. Uma visão da historia sob outra ótica…Bora?
A letra começa com a amante pedindo desculpas para a esposa do homem, o qual ela manteve uma relação.
Só vim me desculpar Eu não vou demorar Não vou tentar ser sua amiga Pois sei que não dá
Lendo a estrofe acima, vejo a cena de uma mulher batendo a porta de uma casa, pedindo um momento de atenção. Parece se sentir constrangida e inferior, (já que ela pede desculpas por tomar o tempo da “esposa”). No início da conversa, essa mulher já deixa claro que a relação entre as duas nunca passará daquele momento, por conta das circunstâncias. Sinto, pelas entrelinhas, que a amante parece ter se cansado da forma como estava conduzindo seu relacionamento, no fundo, acho que ela sabia que merecia muito mais e que carregar essa “culpa” certamente não valia a pena. Ela tomou a iniciativa e o marido deve ter ficado escondido num canto! #cuzao
Você vai me odiar Mas eu vim te contar Que faz um tempo Eu me meti no meio do seu lar
Ela já assume que o que ela falará é muito forte e que a ouvinte, esposa, certamente a odiará por isso. Pois o que ela precisa dizer afeta uma família, uma instituição ainda muito forte e que carrega muitos, errados ou não, valores (isso é assunto pra outro dia).
Fico pensando como deve estar a cabeça dessa mulher, amante; cheia de dúvidas, medos e inseguranças, por saber que essa situação irá deixá-la ainda mais exposta. Ela levava uma vida em segredo, já que o homem era casado, e provavelmente aguentou essa situação por um tempo, até decidir falar e quem sabe abrir mão de alguém que ama. Estranho é o uso da expressão “me meti no meio do seu lar”, como se a mulher estivesse entrado na vida dessa família a força, unicamente por sua decisão. É como se o homem tivesse ausência de responsabilidade, como se ele não fosse a porta de entrada para essa situação. Vamos adiante.
Sua família é tão bonita Eu nunca tive isso na vida E se eu continuar assim Eu sei que não vou ter
Ela começa falando da família, a qual ela não quer destruir. E diz que, se continuar com essa comportamento atual, relação de amante, ela nunca terá aquilo que tanto admira no lar da esposa. Não ter o próprio lar, écomo se fosse uma punição para ela. Sinto por meio dos últimos dois versos que ela se sente tão pesada, que decidiu contar a verdade pra se livrar de algo que a assombra, sabe?O que me deixa intrigada é que a amante está mais preocupada com a família do que o próprio marido, que nem é citado na música. Ele, mesmo casado, e com uma família tão bonita, manteve um caso extraconjugal. Seguimos o baile.
Ele te ama de verdade E a culpa foi minha Minha responsabilidade eu vou resolver Não quero atrapalhar você
Na estrofe acima, a amante assume para si toda a responsabilidade do caso que manteve com o homem casado. Como assim, Brasil? ELE, É CASADO! Ele precisou sair com outra mulher para saber que amava sua esposa de verdade? Ele foi obrigado, forçado a fazer alguma coisa ? Homens não sabem dizer não? #jatomeioputinha Será que é a amante quem está prejudicando essa família?
E o preço que eu pago É nunca ser amada de verdade Ninguém me respeita nessa cidade Amante não tem lar Amante nunca vai casar
Essa estrofe pra mim é a mais dolorosa, sabe? Essa mulher se condena e tem plena certeza de que não é digna de ser amada, de ter sua família e de conquistar o amor um homem de verdade. A mulher é vista, quase sempre, como a pivô do conflito, como se ela também não estivesse envolvida emocionalmente, como se ela não sofresse e estivesse feliz em ser socialmente a segunda opção. Não estou tirando a culpa dela!! Não mesmo! O que e me incomoda é só ela levar a culpa! Já presenciei historias desse tipo de perto e, em todas as vezes, a mulher que se submeteu a uma relação como amante estava fragilizada emocionalmente e o maridão/namorado, infiel, se aproveitou dessa situação. Muitos homens se fazem de vitimas de seus relacionamentos em casa e iludem outras mulheres apenas pra satisfazer seu próprio prazer. Oferecem o mundo e nunca cumprem suas promessas. No final das contas, a amante é quem não é digna. Ela que leva a culpa por destruir uma família, que as vezes só existe pros outros verem. Já vi esposas perdoarem seus maridos infiéis e colocarem 100% da culpa na amante. Já vi mulheres disputarem esse homem em questão, como se ele fosse um troféu (AFF) …
Depois, a gente não sabe porque nós mulheres somos tão competitivas umas com as outras. Essa rivalidade que existe entre as mulheres é uma construção social, está tudo tão radicado em nossa cultura que a gente canta e espalha pra todo mundo, virou comum.
O que a Marília faz, muito bem, com essa musica é mostrar essa historia de um ponto de vista tão real que me assustei e vim aqui dividir com vocês.
Ouçam a musica e me falem o que acharam, se concordam, discordam… Tô aberta para uma discussão saudável!